Quando a mulher fica de fora

Opinião de Pedro Alvito, Professor de Política de Empresa na AESE Business School

Executive Digest
Outubro 1, 2025
13:52

A presença feminina nas empresas em Portugal e no mundo é um tema que na minha opinião tem perdido atualidade. Não porque a importância do mesmo tenha diminuído ou (quem dera) tenha desaparecido o problema pois, seria uma indicação fantástica de que as coisas tinham mudado.

Segundo um estudo recente da Informa D&B, “Presença Feminina nas Empresas em Portugal”:

  • As mulheres ocupam cerca de 30% dos cargos de gestão nas empresas em Portugal.
  • Esse valor desce para cerca de 27% quando se consideram cargos de liderança de topo.
  • Nas funções de direção geral, apenas cerca de 17% são mulheres; e nos conselhos de administração ~16,4%.
  • O estudo mostra também que, apesar de as mulheres terem, em muitos casos, nível de escolaridade superior, continuam desproporcionalmente sub-representadas nos níveis mais altos da hierarquia.

Se tivermos em conta que cerca de 80% das empresas em Portugal são empresas familiares que na sua grande maioria foram criadas por uma geração mais velha, sobretudo de homens, que por razão da maior longevidade se perpetua nas organizações, poder-se-á entender com maior facilidade estes números. No entanto, importa também dizer que estes números revelam uma tendência normal, crescente e naturalmente mais equilibrante.

No entanto, este estudo esconde o outro lado do problema. E como está o outro lado da pirâmide, ou seja, nas funções que não são de topo? Não há estatísticas para “esse lado”, mas a experiência do dia-a-dia diz-nos que nas áreas administrativas as mulheres claramente já dominam e nas áreas mais físicas dominam os homens (alguns vêm aqui um enorme espaço de melhoria). No entanto, o problema que está escondido é a questão salarial, em que muitas vezes para trabalho igual não há salário igual e, para isto, não há desculpa possível.

Mas, dizia eu, no início, que o tema tem perdido alguma atualidade. Não devido à sua perda de importância, mas, sobretudo, a uma agenda “imposta” por uma minoria (ninguém a mediu até hoje, portanto é uma assunção minha) dita detentora da verdade e, portanto, com autoconvencimento de que representa a vanguarda em que o importante é o princípio de inclusão e respeito pela diversidade. Segue-se a moda e criou-se assim o absurdo da promoção e da seleção nas empresas ser feito por critérios que pouco tem que ver com aptidões profissionais e, pior ainda, com as características ideais para o desempenho da função. A única razão da escolha é a diversidade e não a aptidão. E como nesta diversidade entra tudo, a mulher “fica de fora” das prioridades porque agora o tema é outro. O problema é, em várias situações, o mesmo. Inclusão e diversidade significa não preterir seja em que circunstancia for alguém quando a competência e o valor existem.

Há medida que estes temas vão evoluindo parece-me claro que o respeito saudável e lógico pela competência vai vencer. Senão caímos no ridículo de amanhã ter de rejeitar inclusive uma mulher, em defesa de uma qualquer diversidade que recusa o critério básico da competência. Pior ainda, conheço quem já se recuse a participar num processo de seleção porque, escolha o que escolher, vai ser sempre questionado pela sua opção e às vezes da forma mais absurda. Deixo aqui dois desafios: você aceitaria ser operado por um médico que entrou na faculdade e que foi contratado naquele hospital apenas para cumprir quotas deixando a competência de fora? E viajaria num avião em que o piloto fosse contratado através de um processo semelhante?

 

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